Igreja: mãe, mestra e comunidade da misericórdia
Com o domingo que encerra a Oitava Pascal, tradicionalmente cognominado Domenica in Albis (Domingo no branco), temos a lembrança de que neste dia era a data em que os neófitos, batizados na Santa Noite da Vigília Pascal, já participantes da comunidade dos fiéis, retiravam as suas brancas vestes batismais, pelo menos enquanto indumentária. Com tal prática, a Mãe Igreja queria ensinar os seus filhos recém-nascidos para a fé através da graça batismal o quão é necessário confessar o nome do Senhor, como se lhes dissesse: “Como crianças recém-nascidas, desejai o puro leite para crescerdes na salvação” (1Pd 2,2).
Quando lemos o ‘retrato das primeiras comunidades’, apresentado pelos Atos dos Apóstolos (cf. 4,32-35), percebemos quão interessante é a forma com a qual a Igreja, pedagogicamente, conduz os seus filhos, pois, após fazer novos filhos de Deus pelo Batismo, como Mestra, ela aponta, não somente para os novos cristãos como também para nós que já trilhamos a fé há tempos relativamente largos, como se fundavam as proto-comunidades, demonstrando-nos os sentimentos que aí eram vividos: a piedade, a partilha e comunhão e a escuta à Palavra de Deus e aos seus ensinamentos. Esta se torna uma fórmula infalível para o crescimento da comunidade dos seguidores de Jesus. Se nós perseguirmos, fielmente, tal intento, como cristãos amadurecidos, faremos o que a Carta aos Hebreus nos observa: “o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal” (Hb 5,14).
No Domingo da Divina Misericórdia, quando exaltamos, fortemente, os atributos do amor do Senhor, o mistério de nossa redenção é uma prova estupenda da gratuita misericórdia de Deus. Por isso, o mistério pascal é ocasião, muito mais que propícia, para recordar o amor desinteressado do Senhor para conosco. Sentindo a misericórdia divina, o cristão deverá ser expressão deste mesmo amor, inclusive pela caridade para com o próximo como medida dos mandamentos, ao mesmo tempo em que o cumprimento dos mandamentos é a medida da caridade (cf. 1Jo 5,2-3). O amor ao próximo, como produto da fé em Nosso Senhor, é critério indispensável para averiguarmos a nossa comunhão com Deus. Em síntese, a fé no Cristo gera o amor, e este, conseguintemente, “cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8).
Apresentando-Se chagado e glorioso (cf. Jo 20,19-31), o Ressuscitado diz-nos que permanece junto a nós, com a Sua Igreja, confortando-nos nas diversas agruras que a Sua Esposa e seus filhos enfrentamos, a começar pelos Apóstolos. Se cremos na força do Senhor vivo e ressuscitado – o mesmo Cristo crucificado -, teremos as condições essenciais para, com alegria e justa satisfação, enfrentar os desafios que a vida nos impõe de estarmos padecendo tudo por amor a Deus, naquela mesma confissão de São Paulo: “Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10).
Manifestando-Se redivivo, Jesus sopra o Espírito aos Apóstolos (cf. Jo 20,22). Com a transmissão do poder do Ressuscitado, compreendemos que a missão da Igreja é a de ser continuadora da missão do Senhor. O insuflar do Espírito remete-nos à ideia de que Jesus, com a Sua ressurreição, promove uma nova criação, da qual fazemos parte, e a Igreja, por sua vez, é a comunidade das novas criaturas. O Espírito é poder de salvação que os discípulos manifestarão em comunhão com Jesus. Por isso, somente com o Espírito dado por Ele, é que a Igreja, única com peculiar poder, perdoa os pecados, emendando as almas ao seu Senhor.
A Igreja, da qual participamos e que nos chama à uma intensa vida da fé, quer nos mostrar que ela é a comunidade bem-aventurada dos creem em Jesus morto e ressuscitado. Que a Luz do Cristo sempre nos inspire na fé e no testemunho autêntico e existencial da Sua e da nossa Páscoa.